sábado, 19 de julho de 2014

Opinião.

C'è un vecchio detto: "Trovar pane per i propri denti." Os divórcios, estão sendo a cada dia realizados a revelia, perchè, as novas gerações são instruídas a descartar seus problemas ao invés de consertá-los. Homens fracos que escolhem mal e mulheres infames que mandam muito, receita infalível para o fracasso de um matrimônio. O berço de uma sociedade se encontra na célula familiar, assim como a fonte de um rio deve ser pura para que toda a sua extensão o seja, a família deve ser estruturada para que toda a sociedade não desabe. Observa-se em todas as culturas e países, da Itália ao Brasil, uma sociedade feminina contaminada e desmedida por movimentos políticos e ideias subversivas, com uma nova forma de casamento, escolhido à luz de interesses pessoais. Dinheiro, poder e beleza tornaram-se o maior atrativo dos relacionamentos, ao passo que as mulheres passaram a dar maior ênfase ao status masculino e os homens tornaram-se negligentes quanto ao passado imáculo, a honra e qualidades do lar femininas. Acreditamos e sempre repetimos, que o mal do mundo é que os homens (que não são isentos da atual condição) deixaram de seguir as velhas tradições e por fim, as mulheres abandonaram os bons costumes. Altri tempi, altri costumi... Como era belo o tempo em que um homem levava ao altar uma mulher da qual todo o seu coração poderia se descansar e deleitar, quando a mulher sentia prazer em saber que seu companheiro era um homem de fibra para construir uma sincera cumplicidade. Oggi, o passado púbere, promiscuo, desregrado e sem o mínimo de honra ou moral de uma mulher torna-se irrelevante dado a sua vã beleza. Mulheres, das quais, casam-se tramando o momento certo de divorciarem hediondamente, levando consigo, dinheiro, pensões e o que sobrara da hombridade e moral de quem, um dia no altar, prometera dedicação eterna. Mas a culpa não se encontra nas interesseiras, pelo contrário, todos tem a sua forma de ganhar o pão, de procurarem seu lugar ao sol, culpado são os pazzi, a quem se deixaram enganar-se, chi mal fa, mal fine aspetti! Tão raro nos dias de hoje é encontrar uma que não se entregara à vã vaidade, que exitara em entregar-se às paixões passageiras desta vida para agregar algum valor em sua personalidade. Honra e Lealdade deixaram de ser ornamentos de suas características para dar lugar a uma modernidade da qual putrefaz os antigos valores. Aderiram à ideia de que, viver em prol de filhos e ao lado de seu marido é uma opressão, e passaram a se entregarem à jornadas de 12 horas de trabalho, realmente sendo oprimidas por um chefe empresarial. Vanffanculo... Os relacionamentos, são como o mundo dos negócios, homens são atraídos pelo que veem e as mulheres pelo que ouvem, por isso "homens" mentem e mulheres usam ornamentos, maquiagem e todo aparato físico que possam melhorar suas aparências e sensualidade. Entretanto, na mesma linha de pensamento, quando os negócios são fechados utilizando-se impulsos emocionais e sentimentais, nada mais do que um enorme prejuízo resultará. Ninguém faz uma aliança de negócios, visando obter lucro, observando a aparência de seu parceiro, mas, observa-se a capacidade e competência a quem lhe depositará confiança e dinheiro. Nos relacionamentos, infatti, aplica-se o mesmo princípio, é necessário observar em uma mulher fatores realmente importantes, a aparência cativa sim mas, para um homem sensato e equilibrado, esta é apenas mais uma qualidade se somada a honra, lealdade, virtuosidade, coragem, força de vontade, submissão, caridade, delicadeza, sensatez, e diversas qualidades das quais as mulheres deviam ter, as do passado possuíam, as atuais, nem tanto. Saiba ter sensatez nas suas escolhas, e mantenha-se firme em seus objetivos, não deixe se entregar aos novos tempos, seja um homem forte e saiba escolher aquela a quem entregará o seu bem mais preciso, aquela que cuidará e educará seus filhos, não importa quão em ruínas a sociedade lá fora esteja, mantenha a sua casa em ordem...

quinta-feira, 3 de julho de 2014

Amor Esquecido.

Eu fui capaz de manter um sadio ceticismo sobre fantasmas, assombrações e todas as coisas sobrenaturais até meus 28 anos. Achava a maioria das alegações de tais coisas serem duvidosas na melhor das hipóteses e, na pior das hipóteses, prejudiciais. Eu estava mais inclinado ao campo da ciência clássica, por ter muitos anos antes estudado física na Universidade de Edimburgo. Enquanto minha profissão nunca me levou de volta para as áreas cientificas, eu tinha mantido até este momento uma posição implacável em relação a pseudociência e superstições.
Com frequência, meus amigos ficam pensando sobre a mudança que eles viram em mim na época. O que os surpreendeu é que não foi uma mudança constante e lenta do coração, mas sim uma reviravolta completa da noite para o dia; uma transformação, se assim quiser chamar. Visto de certo ângulo, parecia ter ocorrido muito rápido, mas na verdade aconteceu em uma escala de tempo ligeiramente mais prolongada; duas semanas para ser preciso.
Era Fevereiro, de fato era a semana do Dia dos Namorados (N.T: O dia dos namorados na Escócia ocorre dia 14 de fevereiro). Nessa época eu estava passando por uma fase de isolação social. É algo que muitas vezes acontece no sombrio inverno escocês, onde me torno cada vez mais agarrado a minha solidão e passando amargura para aqueles que “se encaixam”. Era, e ainda é, uma ressaca neurótica da minha adolescência, algo que me atormentou por muito tempo.
Duas semanas antes encontrei-me vagando pelas ruas de Edimburgo para limpar minha mente. Andar a pé, o quão engraçado que possa parecer, sempre foi um grande conforto para mim. Você está, em todos os sentidos, a sós com seus pensamentos, mas essa parte que almeja a companhia de outra pessoa é apaziguada por um tempo.
Edimburgo é uma cidade muito antiga e tem mantido notavelmente a forma de seu passado. As ruas de paralelepípedo serpenteiam o lado íngreme do que já foi um vulcão, rompendo-se esporadicamente em ruas estreitas que ocasionalmente se abrem para pátios isolados. Esses inúmeros pátios são geralmente ladeados por casas altas geminadas, amontoadas como se sussurrassem umas ás outras os segredos esquecidos do passado: a majestosidade de Edimburgo como uma cidade que frequentemente é perdida naqueles que viveram tempo suficiente para ver a beleza banal.
Como muitas vezes acontece quanto tomado pela depressão, eu não tinha dormido bem. Eu tinha terminado de trabalhar por volta das cinco da tarde e quando consegui dormir u pouco, minha mente não me deixava relaxar. As seis da manhã eu tinha conseguido dormir pouco, e mesmo que fosse domingo, admiti a derrota nas minhas tentativas de ter um bom descanso e levantei-me relutante para cumprimentar o mundo.
No momento eu já tinha percebido que ainda estava cedo da manhã e o frio gelado de janeiro ardeu em minha face. Apesar de Edimburgo ser, por falta de expressão melhor, uma cidade turística, naquela época ainda estava relativamente deserta, mesmo para um domingo. Uma ligeira névoa subiu pra fora das águas de Leith fazendo-me sentir ainda mais frio enquanto passava pelas ruas estreitas e calçadas vazias, totalmente absorto em meu caminho.
Enquanto as lojas abriam e as primeiras gotas de turistas começavam a vazar de seus hotéis para as calçadas de paralelepipedo, eu decididamente me desviei para outras ruas que geralmente são esquecidas. Minha mente distante tinha tomado conta de mim, pois quando sai de meus devaneios, eu estava de frente a um velho cemitério. Eu pensei em dar meia volta e ir para casa, mas algo deste lugar despertou uma compulsão em mim; eu tinha de explorá-lo.
Eu achei curioso que o portão, feito negras barras de metal, estavam entreabertas de manhã cedo num dia como aquele. Entrando no cemitério, eu imediatamente notei a isolação total do lugar, apreciando o som do cascalho debaixo de meus pés que quebrava o silêncio enquanto eu me direcionava lentamente por um caminho cheio de pequeninas pedras brancas.
Não era um cemitério grande. Parecia consistir em dois lotes separados, com os velhos túmulos á frente, beirando o muro e o portão, e mais para trás, conforme o terreno se afunilava em uma colina, se encontravam os túmulos dos falecidos mais recentemente. Os túmulos mais antigos carregavam as cicatrizes da idade. Encontrei um que estava datado do ano de 1776, porém o epitáfio estava ilegível. Eu senti uma tristeza olhando a lápide, e sem culpa alguma me imaginei como uma alma perdida ou esquecida.
Eventualmente eu me desloquei, subindo a colina em direção as sepulturas mais recentes. Me aproximei de um velho e grande Sicômoro que pairava acima de vários túmulos, com um comportamento quase que protetor. Eu fitei uma das lápides, lendo as palavras mas não as registrando, e minha mente foi engolida por outro devaneio. O túmulo se sobressaia de algum jeito entre os outros. Ele era branco, enquanto os outros que o rodeavam eram feitos de um mármore negro profundo.
Sem pensar, eu corri minha mão pela pedra lisa sentindo ocasionalmente as marcas dos elementos nela. Nos pés da sepultura estava um vaso pequeno e inofensivo. Era feito de um metal marrom (assumi que era cobre, pois na superfície deste podia-se ver pequenas veias de coloração azul por conta da exposição de variações climáticas de Edimburgo).
Enquanto fiquei de pé lá, algo brotou na minha mente. Algo que me aborreceu profundamente. De primeira eu não sabia o que era, julgando que fosse apenas um senso crescente de desconforto. Quando esse sentimento atingiu seu auge, eu percebi o que estava errado.
O nome na lápide era Lisa Maine.
Eu reconhecia bem aquele nome, assim como todos os moradores locais. Eu conhecia ela quando eu era adolescente, pois íamos a mesma escola. Ela era alguém que eu observava de longe, cheia de vida e exuberante, enquanto eu era tímido, recluso e reservado. Eu possuía uma paixão e desejo intenso por ela o qual apenas o primeiro amor produz.
As palavras na sua lápide se destacaram fortemente; 15 anos. Eu fui preenchido com um sentimento de luto e perda, o que me pegou de surpresa, tanto que tive que sair do lugar, pois não conseguia aguentar. Saí do cemitério o mais rápido que pude e fui para casa ignorando as ruas confusas de Edimburgo.
Eu não olhei para trás.
No decorrer dos dias seguintes eu estava inquieto. Eu tinha muito trabalho e dificuldade para dormir, mas isto não era incomum de mim. O incomum era as memórias de Lisa que não saiam de meus pensamentos; memórias e lembranças que me seguiam para todos os lugares.
Na época eu tinha sido afetado fortemente pela morte dela pois só tínhamos apenas 15 anos, mas isso fazia quase uma década e eu não pensava nela fazia muitos anos. Era como se o sentimento de perda tivesse acordado quando eu olhei a lápide, um sentimento de dor que eu tinha dado um jeito de enterrar tão profundamente dento de mim que tinha me persuadido a esquecer.
As memórias agora me assombravam; lindas e terríveis. A qualquer momento eu era presentado pelas lembranças do sorriso dela, o cabelo, a bondade, e depois engolido pela desesperante imagem dela enterrada a sete palmos debaixo da terra; fria e sozinha.. Antes tão cheia de vida e alegre, agora uma casca em decomposição, o qual outrora tinha sido a casa de uma alma tão bela.
Se eu tivesse contado a alguém como eu estava me sentindo, me chamariam de emotivo ou de sentimental, por um motivo; eu mal conheci Lisa. Observando ela por anos pela sala de aula, eu me imaginava falando com ela, compartilhando aqueles momentos que significavam tanto para um adolescente; o primeiro contato com alguém que você adora, o primeiro sentimento de ser amado, o primeiro beijo.
Eu mal tinha falado com ela até poucas semanas antes dela morrer. Em uma dessas vergonhosas manobras sociais que os professores do colégio as vezes fazem, os alunos eram forçados a formarem pares para ir ao primeiro baile. Para alguém como Lisa era algo a ser divertido e aproveitável, enquanto para mim era algo a ser detestado. Era constrangedor, possuindo nenhum talento relativo a dança e ainda com muito medo de passar um tempo com uma garota.
Era fim de janeiro, e na aula de dança onde praticávamos, Lisa rapidamente me escolheu para facilitar as coisas. Eu não consigo transmitir com palavras os sentimentos simultâneos de felicidade e medo que eu senti quando ela me pediu para levá-la até em casa naquele dia. Algumas pessoas acham que as interações sociais são cansativas, muito como eu que sempre fiquei preocupado em dizer algo errado, mas alguns indivíduos podem deixar os outros á vontade sem muito esforço; Lisa era uma destas pessoas. Á medida que atravessávamos uma ponte em estilo vitoriano para a casa dela, o sold e inverno brilhava confortavelmente. Eu não poderia estar mais contente de estar na presença dessa garota tão feliz e de coração bondoso. Ela era tão linda, com um sorriso incrível e cabelos dourados que pareciam fazer parte de uma personagem de contos de fadas.
Por semanas a gente fez o mesmo trajeto para casa. Conversando, rindo, e ficando cada dia mais próximos. Quando você está nesta idade, tudo é potente. Eu não tinha muitos amigos, e vivia sozinho com minha mãe que não era uma mulher muito afetuosa, então naquele curto período eu me apaixonei facilmente por Lisa Maine.
No dia 13 de fevereiro, nós paramos do lado de fora da casa dela. Ficamos conversando por uns instantes e então pela primeira vez Lisa se tornou distante. Ela olhou fixamente para mim de um jeito que nunca tinha feito antes. Me senti inquieto, porém ao mesmo tempo alegre. Houve um momento, um breve momento onde não falamos nada um para o outro, então ela me abraçou. Os dedos dela escorregaram em meus cabelos. Jamais esquecerei o quão doce era seu cheiro, o quão viva ela parecia, e o quão maravilhoso era me sentir amado como nunca tinha sido antes.
Lentamente ela me soltou e foi andando para a porta. Então antes de desaparecer dentro de casa ela se virou e sorriu para mim mais uma vez.
De imediato eu sabia o que iria fazer. Pela primeira vez na vida eu estava cheio de foco e propósito, um desejo de fazer apenas uma coisa. Eu corri o mais rápido que pude para o centro onde se encontravam as lojas. Eu tive sorte, pois a maioria já estava fechando. Um gentil senhor que administra uma antiga loja de cartões me deixou entrar, mesmo que já estivesse de saída.
Eu iria comprar meu primeiro cartão do Dia dos Namorados.
Tinha que ser perfeito. Tinha que ser a coisa certa. Depois de olhar quase todos os cartões que eu podia pagar, eu achei um. Era o destino. O cartão era vermelho com um círculo branco no meio. Dentro do circulo havia um menino e uma menina andando ao longe de mãos dadas, juntos. Eu não ligava o que estava escrito dentro, pois eu sempre tive um jeito com a escrita e sabia que conseguiria fazer um bom texto vindo do fundo do meu coração. Eu comprei. Depois de sair da loja de cartões eu fui direto para a banca de jornal local. Eu tinha salvado ainda minhas últimas 2 Libras. Minha mãe tinha me dado permissão de comprar lanche na escola toda semana, e eu sabia que ela não me daria mais para gastar. Com isso, eu tinha que ficar alguns dias sem comer na escola para ter algum dinheiro em mãos, e com o resto de minhas Libras eu comprei uma caixa de chocolate para acompanhar o cartão.
Eu esperei pelo dia seguinte. Foi tudo muito devagar.
O dia 14 de fevereiro. Eu nunca esquecerei o entusiasmo de me arrumar para a escola. Eu dei uma última olhada para os chocolates e o cartão antes de colocá-los na minha mochila. Eu acho que tinha deixado claro demais que eu estava carregando algo importante e delicado, enquanto andava com a mochila nos braços a maior parte do dia.
Eu estava tão entusiasmado, tão concentrado que eu iria marchar até Lisa e dar a ela o presente sem me importar no que os outros, o qual alguns podiam ser muito cruéis, iriam pensar. Porém ela não estava lá.
Ela não estava no parquinho, nem nas aulas. Nas matérias que dividíamos, eu fiquei apenas sentado olhando o lugar vazio dela. Bateu o sinal da escola e eu me vi fazendo o mesmo caminho que Lisa e eu fazíamos normalmente. Fiquei de pé do lado de fora da casa dela, segurando os chocolates. Eu não consigo descrever o sentimento que estava sentindo lá. Pode dizer que era a falta de comida ou o fato de estar totalmente preparado o resto do dia, mas a ansiedade tomou conta de mim o que resultou que eu não conseguia bater na porta dela. Voltei para casa, deprimido. Tanto que eu mal consegui comer uma garfada do presunto mal cozido de minha mãe, então eu simplesmente subi as escadas e rastejei até a cama, mal dormi durante a noite.
Nos próximos dois dias eu me vi fazendo o mesmo caminho de sempre segurando aqueles chocolates, sem me atrever a cruzar a cerca branca que ficava a frente da casa de Lisa. No terceiro dia eu perguntei a uma das professoras sobre as faltas de Lisa, algo que eu ainda não tinha pensado em fazer antes. Eu associava qualquer autoridade sendo um ser frio, distante e injusto, e com resultado eu normalmente evitava contato com os professores a qualquer custo. Sra Randall, nossa professora de História, me disse que Lisa estava com uma febre muito alta e estava muito doente.
Ela poderia se ausentar durante semanas.
Com a notícia eu estava decidido; Eu iria bater na porta dela, e bater na porta dela foi o que eu fiz. Eu bati, bati, bati mas ninguém respondeu. No dia seguinte fiz o mesmo e de novo nenhuma resposta. Agora faziam cinco dias da última vez que eu tinha visto Lisa. Era um sábado, e mais uma vez eu fui até a casa dela, com o chocolate e o cartão em mãos. Enquanto me aproximava de sua casa, o céu se encheu de nuvens, trazendo uma tonalidade monótona em cima da rua de Lisa, fazendo-a parecer deserta. Era claro que o pai de Lisa não era jardineiro. O gramado estava crescido demais com ervas daninhas espalhadas entre as fissuras do concreto que era usado para fazer um pequeno caminho em direção ao hall. Eu parei um instante e olhei ao redor para ver uma estátua de gnomo que estava claramente se afogando na vegetação alta; estava tristemente quebrado.
Muitos sugerem que quando algo está errado, alguém sabe. Essas pessoas podem ou não saber exatamente o que aconteceu, mas eles quase conseguem sentir uma sensação de pavor no ar. Eu olhei ao redor e continuei a andar para a porta da frente.
Algo estava diferente.
Eu estava certo que a casa parecia deserta como estava nos dias anteriores que eu tinha visitado, e mesmo que estivesse do mesmo jeito que antes, uma coisa tinha mudado. A porta da frente estava aberta. Eu estava certo de que ela estava fechada quando eu cheguei, mas eu deixei isso passar enquanto admirava o jardim mal cuidado. Veja só, eu não consigo explicar direito, mas havia algo sufocante sobre aquela casa naquela rua silenciosa.
Eu alcancei a porta e segurei a aldrava, batendo três vezes. Sem resposta. Eu repeti minhas batidas com mais força dessa vez, mas mesmo assim ninguém veio. A porta estava apenas levemente entreaberta, de um jeito que eu não conseguia ver muito bem o interior. Tudo que eu podia ver é que estava muito escuro e que o ar que saia da casa parecia bolorento, como se não estivesse habitada por muito tempo. Eu comecei a ficar nervoso. Eu não sabia realmente o porque.
Limpando a garganta e balbuciante eu perguntei “Olá?” várias vezes sem resposta. A rua estava vazia e o lugar parecia totalmente sem vida. Então um pensamento começou a ruminar e ganhar impulso dentro de mim. E se Lisa e seu pai estivessem machucados? Eu comecei a fazer todas as possibilidades na minha mente, os dois em alguma parte da casa, machucados e sem comer ou beber água por dias. Então eu lembrei que minha professora de história havia dito que Lisa estava doente. Ela tinha que ter falado com alguém que sabia sobre isso, provavelmente o pai de Lisa. Eu esperava que ela não estivesse tão doente que seu pai tivesse levado ela ao hospital.
Apesar de meus pensamentos lógicos, eu ainda não podia negar o horrível sentimento que algo estava de fato errado. O medo começou a se agarrar em mim, então fechei meus olhos por um momento e achei a memória de Lisa sorrindo que me deu o conforto que eu precisava para vencer aquilo. Eu segurei firmemente os chocolates e o cartão enquanto empurrei a porta para ficar totalmente aberta. Me movi silenciosamente, mas o barulho que a aldrava fazia por causa do movimento repentino da porta ecoou pela casa, porém mesmo assim ninguém veio.
A casa estava banhada em escuridão.
Eu dei uma última olhada em volta e cruzei a soleira. Mesmo que Lisa não viesse de uma família muito rica, a casa tinha dois andares e no mínimo quatro quartos e um sótão. Talvez o fato de que Lisa era filha única fazia a casa parecer maior ou mais vazia. Quando eu fui andando lentamente pelo corredor eu sentia como se cada passo meu ecoasse pelas passagens e quartos vazios.
Começando pela sala de estar no primeiro andar, eu fui de quarto em quarto ocasionalmente perguntando se alguém estava me ouvindo, mas rapidamente percebi que eu estava falando sozinho. O ar estava sufocantemente quente e passando minha mão pelo radiador eu percebi que a caldeira deveria estar ligada fazia algum tempo.
Quando eu fui em direção da cozinha no fundo da casa eu ouvi algo. Era quase como uma batida rítmica. Eu não conseguia identificar o que era, mas eu sabia que vinha do andar de cima. Saí da cozinha, o que eu fiquei muito feliz em fazer, porque estava cheirando a comida apodrecida, e andei em direção as escadas.
O lance de escadas era estreito e se estendia por dentro de uma parede. No topo da escada havia um corredor que dobrava para a esquerda e levava até outros quartos. A batida tediosa estava agora mais intensa e enquanto eu escalava lentamente os degraus, o medo que tinha se agarrado quando na porta da frente voltou a mim. A realização de que eu estava vagando sem ser convidado na casa de alguém veio á tona. Parando por um momento, eu fechei meus olhos e pensei em Lisa de novo. Continuei.
Quando cheguei ao topo, a batida parou; eu me arrepio agora só de pensar nisso. Haviam três portas que davam nos três outros quartos e uma que dava no banheiro que eu já havia visto que estava vazio. A porta para o primeiro quarto estava aberta. Eu espiei lentamente esperando ver alguém lá dentro. Não havia ninguém. Era o quarto do pai de Lisa, elegante, organizado e com quase nenhum objeto. A única coisa curiosa era que as cortinas não estavam abertas.
A porta para o segundo quarto estava fechada. De novo, eu fui invadido por uma sensação de ser um intruso ali. Eu estava andando dentro da casa de alguém sem ser convidado. Eu era um transgressor. Bati levemente na porta. Esperando por um tempo eu percebi que não devia ter ninguém lá, então segurei a maçaneta, e a girei. Abriu. Empurrei a porta e ela travou com apenas alguns centimetros de abertura. Algo estava bloqueando a passagem. Puxei em minha direção e depois empurrei de novo, porém sem sorte. Em cada tentativa a madeira da porta batia em algo. De repente eu fiquei ciente que o barulho que fazia quando eu empurrava a porta ecoava pela casa. Não era muito diferente do que eu tinha ouvido antes.
Eu tentei mais uma vez, empurrando contra o obstáculo com mais força possível. Sem sorte. Eu estava prestes a desistir e ir para a próxima porta quando eu vi o que estava bloqueando minha entrada. Eu jamais vou esquecer o olhar vidrado do rosto que parecia estar espiando pela fresta que fica entre a parede e a porta.  A pele era de um cinza pálido, alguns cachos de cabelo cobrindo a cabeça, e algumas gotas de suor congelados na testa. A maior parte de suas feições estavam obscurecidas pela porta, mas o único olho visível continuava encarando, oculto, coberto de sombras.
Eu não gritei porque percebi não só que era o rosto do pai de Lisa, mas que ele estava pra lá de morto. Eu me senti anestesiado, mas olhando de volta, percebo que consegui controlar a situação muito melhor que a maioria dos adolescentes naquela idade teriam, porém posteriormente eu comecei a ter uma estranha fascinação por isso, lendo muitos casos de mortes horrendas.
Eu me concentrei por um segundo, me compus, e instantaneamente meus pensamentos se voltaram para Lisa e onde ela estaria. Ela está no mesmo quarto? Ou estava no porão? Tudo o que eu desejava é que ela estivesse bem.
Então algo aconteceu. Um evento que até hoje eu reprimi, ignorei, e evitei o máximo que pude. Algo que me chocou o fundo da alma. Algo que nunca contei a ninguém.
O rosto que me olhava através da lacuna escura se mexeu. No começo, era apenas um movimento rápido, e eu ignorei como efeitos do choque da morte sobre corpo. Em seguida, mudou-se novamente. De repente, a porta começou a tremer violentamente como se estivesse sendo chutada e socada pelo corpo que estava atrás dela. O rosto se virou pra cima com um estalado do pescoço morto enquanto lutava contra cada movimento brusco. Um som borbulhante e pútrido soou ofegante, enfurecido de dentro de sua garganta inchada.
Fechei meus olhos. Eu estava certo que aquilo não era real. As colisões pararam, e a casa caiu em silêncio mais uma vez.
Eu dei um suspiro de alívio e abri meus olhos. O que eu vi, mal posso descrever agora. O rosto tinha mudado em direção á cima e ficou no mesmo nivel que o meu. A porta balançou e sacudiu sob a tensão do seu agressor venenoso que tentava fazer seu caminho através dela. Finalmente o rosto se empurrou e se apertou contra a fresta, revelando inteiramente suas características repulsivamente repugnantes.
Morto, coberto de sangue coagulado, ofegando incansavelmente por ar, o tempo todo olhando diretamente pra mim com ódio nos olhos e seus lábios repuxados para trás mostrando os dentes juntos. Eu não me lembro muito bem o que aconteceu depois disso, e eu sou feliz por isso. Eu sei que saí de lá, corri confuso para casa, chorando e balbuciando feito louco. Sei de mais uma coisa, que enquanto as memórias vem correndo por mim, eu lembro que aquela coisa conseguiu escapar e me agarrou. Como escapei...isso não lembro.
A verdade era mais assustadora do que eu poderia imaginar. O pai de Lisa tinha perdido seu trabalho algumas semanas antes e as contas se empilharam junto com a pressão de cuidar de sua única filha, ele enlouqueceu. Quando a polícia entrou na casa encontrou o corpo da pobre e doce Lisa no porão. Seus pulsos estavam amarrados ao radiador. Tinha sido estrangulada até a morte. Depois de matar a filha, o pai de Lisa foi ao quarto dela e se enforcou. Depois de uns dias pendurado, a corda que ele tinha usado para tirar sua própria vida parece ter arrebentado.  A polícia achou o corpo dele caído atrás da porta. A porta estava aberta.
Enquanto o tempo corroía as memórias, a explicação destes eventos se alteraram várias vezes em minha cabeça. Através dos anos na escola e na faculdade, eu li sobre pressão psicológica e como um trauma poderia fazer um ser humano alucinar. Eu me convenci que tinha encontrado o pai de Lisa morto e que o choque tinha produzido o resto da experiência. Não importa o quão real parecia, a idéia de que um cadáver se retorcia por raiva e ódio, talvez até pelo amor que sentia pela filha, poderia voltar a vida e atacar os vivos...Simplesmente não se encaixa nas minhas crenças científicas de ateístas.
Eu rejeitei toda a experiência, mas algo continua a me assombrar enquanto tento me esconder da verdade. A polícia relatou que Lisa tinha sido amarrada alguns dias antes de ser morta.
A morte foi datada em 15 de fevereiro.
Ela estava no porão, amarrada, assustada mas mesmo assim viva quando eu fui até a casa dela dar seu presente de Dia dos Namorados. As pessoas falam sobre assombrações e espíritos, mas a memória do rosto se contorcendo atrás da fenda não era nada comparado a saber que eu tinha estado na casa dela e que talvez eu poderia ter a salvo. Sim, eu era criança, mas eu poderia ter feito algo!
Eu cresci, mas nunca mais amei ninguém; aquele sentimento de conexão com outro ser humano. Eu desenvolvi um apego não-saudavel a minha própria companhia e me encontrei mais interessado em meter a cabeça em livros do que talvez conhecer novas pessoas, ou me apaixonar de novo. Os amigos que eu tinha nunca tinham sido realmente próximos; nem nunca entenderam direito quem eu era.
Ver o túmulo de Lisa tinha trazido tudo á tona. Os momentos perdidos, a coisa na casa, e a morte dela. O engraçado que de todas estas memórias, todas traumáticas e ao mesmo tempo preciosas, a única que jamais me abandonou era a do presente que eu nunca dei. Mesmo desejando que a morte de Lisa tivesse sido apenas um sonho, e que ela estivesse viva, eu ainda sentia que eu deveria corrigir esta situação.
Eu ainda tinha o cartão depois de todos estes anos, e em muitos aspectos, era o meu bem mais precioso mas ainda assim o mais detestado. Precioso pelas memórias que estavam gravadas dentro de mim e odiadas pelo mesmo motivo. Na manhã do dia 14 eu andei pelas ruas de paralelepipedo em sentido ao lugar de descanso de Lisa, no caminho parei em uma banca de jornal e comprei uma caixa de chocolates.
Na minha primeira visita eu tinha andado até lá por acaso, vagando simplesmente em transe, mas desta vez eu estava focado e decidido. Sentimento é uma coisa interessante e que tinha me feito manter o cartão e a fita da caixa de chocolate que havia feito na época. Quando entrei no cemitério, olhei para cima em direção da colina onde o túmulo dela se encontrava. Me senti hesitante. Não porque eu não queria deixar os presentes no seu túmulo, mas porque eu não sabia até que ponto o sentimento de remorso, tristeza e nostalgia poderiam tomar conta de mim de novo. No entanto, depois de um tempo eu refiz meu caminho andando sobre as pedrinhas brancas, subindo a colina.
Lá eu fiquei. O sol ainda estava relativamente baixo no céu e fazia que tudo o que eu olhasse ficasse exageradamente contorcido com as sombras banhando tudo. Depois de ficar por lá pelo que pareceu uma década, tirei a fita do bolso, amarrei cuidadosamente em volta da caixa e então coloquei os chocolates e o cartão em cima da pedra fria da sepultura.
Não sei se disse algo. Naquele momento provavelmente não, pois eu não estava convencido que ela estava lá para me ouvir; que uma vez que meus entes queridos morrem, eles se vão para sempre; que a morte é o fim. Eu sei que chorei. Eu chorei como não tinha chorado desde criança. Eu caí em meus joelhos e enterrei meu rosto nas mãos. Eu estava inconsolável.
Eu tinha ouvido e lido sobre pessoas tendo experiências religiosas e espirituais, e enquanto eu não podia aceitar verdadeiramente os testemunhos dos outros, o que posso dizer é que o que eu senti naquele momento foi profundo...um sentimento dolorosamente lindo de companheirismo e amor. Eu olhei em volta. Ninguém estava lá, mas senti como se estivesse. Eu tentei me livrar da sensação achando que minha mente estava só brincando comigo, mas eu simplesmente não conseguia, por mais que tentasse. Aquele sentimento era uma “emoção dupla”. Eu só tinha me sentido daquela forma uma vez antes; quando Lisa me abraçou na última vez que nos vimos. Enquanto a sensação tomava conta de mim, eu percebi que eu tinha estado procurando incansavelmente pela mesma sensação, mas nunca tinha encontrado até aquele momento.
Eu me levantei, enxuguei meus olhos e toquei a sepultura como se dissesse adeus. Andei para a entrada do cemitério com um sorriso que ia de orelha a orelha, algo que qualquer um que me conhece bem diria ser extremamente raro. Quando eu cheguei ao portão eu olhei para a colina mais uma vez, que para mim não era mais um local de solidão, e sim amor e amizade.
A segunda e última vez que eu posso dizer que vi um espírito foi naquele momento, de pé atrás do túmulo de Lisa estava uma imagem embaçada de uma moça em um vestido de dança rosa. Eu não corri para a sepultura, pois sabia que não precisava. Ela acenou lentamente para mim e desapareceu lentamente.
Eu andei pela casa. Eu me sentia completo, contente e exuberante. É quase impossível de descrever a experiencia do cemitério, mesmo que eu a tenha feito em plenitude.
Meus amigos se perguntam o que aconteceu comigo naquela época. O fato é que eu encontrei algo que eu nem sabia que me faltava. Alguns lendo isso podem pensar que eu encontrei minha fé, mas não foi isso. O que eu encontrei aquele dia foi o companheirismo e aceitação da única pessoa que eu já amei. Sabia que daquele dia em diante o mundo tornara-se muito mais misterioso e maravilhoso do que eu jamais fui capaz de imaginar. Eu sabia que nunca mais temeria ficar sozinho, pois quando vago pelas ruas de Edimburgo e me encontro em um lugar calmo sem nenhum passante por perto, eu sorrio sabendo que se eu escutar cuidadosamente, posso ouvir os passos de Lisa, a garota que eu amei tão profundamente quando criança, andando comigo para onde quer que eu vá.




Autoria de Michael Whitehouse.



Um pouco de história: As consequencias ignoradas da Primeira Guerra Mundial.

Como comentei no primeiro post, as vezes falarei de história, o que é um assunto que adoro discutir e estudar. Porém nem sempre pelo viés que estamos acostumados a ver, sempre desafiarei discretamente o status quo. As vezes pegarei textos de autores que gosto, outros eu mesmo escreverei. Segue....

Texto de autoria de Hans Hermann Hoppe, publicado pelo Instituto Mises Brasil.

- A Primeira Guerra Mundial representou um dos maiores divisores de água da história moderna. Ao seu final, a transformação de todo o mundo ocidental, que havia sido iniciada ainda na Revolução Francesa, foi completada: governos monárquicos e reis soberanos deixaram de existir e deram lugar a governos republicano-democráticos.

Até 1914, existiam apenas três repúblicas na Europa: França, Suíça e, desde 1911, Portugal.  E, dentre todas as principais monarquias europeias, apenas a do Reino Unido podia ser classificada como um sistema parlamentar, isto é, um sistema em que o poder supremo estava investido em um parlamento eleito.  No entanto, quatro anos depois, após os Estados Unidos terem entrado na guerra europeia e decisivamente determinado o seu resultado, as monarquias praticamente desapareceram, e a Europa, junto com o resto do mundo, adentrou a era do republicanismo democrático.
Na Europa, os Romanovs, Hohenzollerns e Habsburgos, militarmente derrotados, tiveram de abdicar ou renunciar, e a Rússia, a Alemanha e a Áustria tornaram-se repúblicas democráticas com sufrágio universal (masculino e feminino) e com governos parlamentares.  Igualmente, todos os recém-criados estados — sendo a Iugoslávia a única exceção — adotaram constituições republicano-democráticas.  Na Turquia e na Grécia, as monarquias foram destituídas.  E até mesmo naquelas nações onde as monarquias ainda existiam ao menos nominalmente, como na Grã-Bretanha, na Itália, na Espanha, na Bélgica, na Holanda e nos países escandinavos, os monarcas não mais exerciam qualquer poder governamental.  O sufrágio adulto universal foi introduzido, e todo o poder estatal foi investido em parlamentos e funcionários "públicos".
Essa mudança histórica mundial — do ancien régime de reis e príncipes à nova era republicano-democrática de governantes popularmente eleitos ou escolhidos — também pode ser caracterizada como a mudança que representou a abolição da Áustria e "do jeito austríaco" e a afirmação dos Estados Unidos e do "jeito americano".  E assim é por várias razões.  
Em primeiro lugar, a Áustria iniciou a guerra, e os EUA puseram-lhe um fim.  A Áustria perdeu, e os EUA venceram.  A Áustria era governada por um monarca — o imperador Francisco José —, e os EUA, por um presidente democraticamente eleito — o professor Woodrow Wilson.  No entanto, ainda mais importante é a constatação de que a Primeira Guerra Mundial não foi uma guerra tradicional, em que se combatia por objetivos territorialmente limitados, mas sim uma guerra ideológica; e a Áustria e os EUA, respectivamente, eram os dois países que mais claramente personificavam as ideias em conflito — e era assim que as demais partes beligerantes os viam. 
A Primeira Guerra Mundial começou como uma tradicional disputa territorial.  No entanto, com o prematuro envolvimento e a derradeira entrada oficial dos Estados Unidos em abril de 1917, a guerra tomou uma nova dimensão ideológica.  Os EUA foram fundados como uma república, e o princípio democrático, inerente à ideia de uma república, apenas recentemente tornara-se vitorioso — tal vitória decorreu da violenta derrota e da violenta devastação da Confederação secessionista pelo governo da União centralista.  Na época da Primeira Guerra Mundial, essa triunfante ideologia de um republicanismo democrático expansionista encontrou a sua perfeita personificação no então presidente dos EUA, Woodrow Wilson.
Sob a administração de Wilson, a guerra europeia tornou-se uma missão ideológica: fazer com que o mundo se transformasse em um lugar seguro para a democracia e livre de governantes dinásticos.  Quando, em março de 1917, o czar Nicolau II, um aliado americano, foi forçado a abdicar, sendo estabelecido um novo governo republicano-democrático na Rússia sob Kerensky, Wilson exultou.  Com o czar abatido, a guerra finalmente havia se transformado em um conflito puramente ideológico: o bem contra o mal.
Wilson e os seus mais próximos conselheiros de política externa, o coronel House e George D. Herron, não simpatizavam com a Alemanha do kaiser, com a aristocracia e com a elite militar.  Mas eles odiavam a Áustria. Erik von Kuehnelt-Leddihn assim caracterizou as visões de Wilson e da esquerda americana:
A Áustria era mais demonizada do que a Alemanha.  Ela estava em total contradição com o princípio mazziniano de estado nacional, tendo herdado muitas tradições e muitos símbolos do Sacro Império Romano (a águia de duas cabeças, as cores preta e dourada, entre outros).  A sua dinastia uma vez governara a Espanha (outra bête noire ).  Ela liderou a Contra-Reforma, encabeçou a Santa Aliança, combateu o Risorgimento, suprimiu a rebelião húngara de Kossuth (em cuja homenagem havia um monumento na cidade de Nova York) e apoiou moral e filosoficamente o experimento monarquista no México.  Habsburgo — este era exatamente o nome que evocava memórias do Catolicismo Romano, da Armada, da Inquisição, de Metternich, de Lafayette encarcerado em Olmütz e de Silvio Pellico confinado na fortaleza de Spielberg, em Brünn.  Tal estado tinha de ser destruído; tal dinastia tinha de desaparecer.
Sendo um conflito cada vez mais ideologicamente motivado, a guerra rapidamente se degenerou em uma guerra total.  Em todas as nações da Europa, a economia nacional inteira foi militarizada (socialismo de guerra), e a consagrada e honrada distinção entre combatentes e não-combatentes, e entre vida civil e vida militar,  foi abandonada.  Por essa razão, a Primeira Guerra Mundial resultou em muito mais baixas de civis — vítimas de inanição e de doença — do que de soldados mortos em campos de batalha.
Ademais, devido ao caráter ideológico da guerra, ao seu término somente eram possíveis a total rendição, a humilhação e a punição do derrotado, e não acordos de paz.  Como consequência, a Alemanha teve de desistir da sua monarquia, e a Alsácia-Lorena foi devolvida à França tal como antes da Guerra Franco-Prussiana de 1870-71.  A nova república alemã foi onerada com pesadas reparações de longo prazo.  A Alemanha foi desmilitarizada, o Sarre alemão foi ocupado pelos franceses, e, no leste, grandes territórios tiveram de ser cedidos à Polônia (Prússia Ocidental e Silésia).
A Alemanha, entretanto, não foi desmembrada e nem destruída.  Wilson reservara esse destino para a Áustria. Com a deposição dos Habsburgos, todo o Império Austro-Húngaro foi despedaçado.  Para coroar a política externa de Wilson, dois novos e artificiais estados, Tchecoslováquia e Iugoslávia, foram extraídos do antigo Império.  A Áustria, por séculos uma das grandes potências europeias, foi macicamente reduzida em tamanho, limitando-se agora ao seu pequeno território central de língua alemã; e, como outro dos legados de Wilson, a agora pequena Áustria foi obrigada a entregar sua província inteiramente alemã do Tirol do Sul (Alto Ádige ou Bolzano) — estendendo-se até o Passo do Brennero — à Itália.
Desde 1918, a Áustria desapareceu do mapa do poder político internacional.  Em seu lugar, os Estados Unidos emergiram como a potência líder do mundo.  A era americana — a pax Americana — começara.  O princípio do republicanismo democrático havia triunfado.  E ele triunfaria de novo ao final da Segunda Guerra Mundial.  E uma vez mais — ou ao menos assim pareceu — com o colapso do Império Soviético nos últimos anos da década de 1980 e no início da década de 1990.  Para alguns observadores contemporâneos, o "Fim da História" havia chegado.  A ideia americana de democracia universal e global finalmente estava totalmente implementada.
Assim, a Áustria dos Habsburgos e a prototípica experiência pré-democrática austríaca se tornaram uma mera curiosidade histórica.  Para ser exato, não é que a Áustria não mais tenha alcançado qualquer reconhecimento. Até mesmo os intelectuais e artistas pró-democracia, de qualquer campo das atividades intelectuais e artísticas, não podiam ignorar o enorme nível de produtividade da cultura austro-húngara e, em particular, da cultura vienense.  Com efeito, a lista de grandes nomes associados à Viena do fim do século XIX e do início do século XX parece infinita. 
A lista inclui Ludwig Boltzmann, Franz Brentano, Rudolph Camap, Edmund Husserl, Ernst Mach, Alexius Meinong, Karl Popper, Moritz Schlick e Ludwig Wittgenstein entre os filósofos; Kurt Godel, Hans Hahn, Karl Menger e Richard von Mises entre os matemáticos; Eugen von Böhm-Bawerk, Gottfried von Haberler, Friedrich A. von Hayek, Carl Menger, Fritz Machlup, Ludwig von Mises, Oskar Morgenstern, Joseph Schumpeter e Friedrich von Wieser entre os economistas; Rudolph von Jhering, Hans Kelsen, Anton Menger e Lorenz von Stein entre os advogados e os juristas; Alfred Adler, Joseph Breuer, Karl Bühler e Sigmund Freud entre os psicologistas; Max Adler, Otto Bauer, Egon Friedell, Heinrich Friedjung, Paul Lazarsfeld, Gustav Ratzenhofer e Alfred Schutz entre os historiadores e os sociólogos; Hermann Broch, Franz Grillparzer, Hugo von Hofmannsthal, Karl Kraus, Fritz Mauthner, Robert Musil, Arthur Schnitzler, Georg Trakl, Otto Weininger e Stefan Zweig entre os escritores e os críticos literários; Gustav Klimt, Oskar Kokoschka, Adolf Loos e Egon Schiele entre os artistas e os arquitetos; e Alban Berg, Johannes Brahms, Anton Bruckner, Franz Lehar, Gustav Mahler, Arnold Schonberg, Johann Strauss, Anton von Webern e Hugo Wolf entre os compositores.
No entanto, e curiosamente, essa elevada produtividade intelectual e cultural raramente foi correlacionada pelos estudiosos como decorrente da tradição pré-democrática da monarquia dos Habsburgos.  A incrível efervescência cultural e intelectual da Viena do final do século XIX e início do século XX raramente é correlacionada com o ambiente criado pela monarquia dos Habsburgos.  Em vez disso, nos raros casos em que não é considerada uma mera coincidência, a produtividade da cultura austro-vienense é apresentada, de forma "politicamente correta", como sendo prova dos positivos efeitos sinergéticos do multiculturalismo e de uma sociedade multiétnica.
Por outro lado, já desde o final do século XX, acumulam-se crescentes evidências de que, em vez de assinalar o fim da história, o sistema político-democrático imposto ao mundo pelos EUA está mergulhado em uma crise profunda.  Desde o fim da década de 1960 e começo da década de 1970, a renda salarial real nos Estados Unidos e na Europa Ocidental estagnou-se e, em alguns casos, até mesmo caiu.  No Oeste Europeu em particular, as taxas de desemprego só fizeram aumentar.  Os gastos governamentais e a dívida pública dispararam em todos os países, alcançando patamares astronômicos, em muitos casos excedendo o próprio Produto Interno Bruto (PIB) de um país.  Similarmente, os sistemas de Previdência Social (ou seguridade social) em todos os lugares estão à beira da falência.  
Ademais, o colapso do Império Soviético não representou exatamente um triunfo da democracia; apenas comprovou a impossibilidade prática do socialismo.  Mais ainda: tal colapso trouxe embutido em si um alerta contra o sistema ocidental de socialismo democrático (em vez de socialismo ditatorial).  No que mais, em todo o hemisfério ocidental, divisões, separatismos e secessões nacionais, étnicas e culturais estão crescendo.  As criações democráticas e multiculturais de Wilson — a Iugoslávia e a Tchecoslováquia — se fragmentaram.  Em todo o Ocidente, em menos de um século de democracia perfeitamente completa, os resultados são estes: degeneração moral, desintegração social e familiar e decadência cultural na forma de taxas crescentes de divórcio, de filhos bastardos, de aborto e de criminalidade.  Em consequência de uma quantidade — ainda em expansão — de leis e políticas antidiscriminatórias, multiculturais e igualitaristas, todos os poros da sociedade ocidental foram afetados pela interferência governamental e pela integração forçada.  Consequentemente, as tensões e hostilidades raciais, étnicas e culturais — bem como as inquietações sociais — têm crescido dramaticamente.
À luz dessas decepcionantes experiências, ressurgiram dúvidas fundamentais sobre as virtudes do sistema democrático preconizado pelos americanos.  
Mas fica a pergunta: o que teria acontecido se, de acordo com suas próprias promessas feitas durante sua campanha de reeleição, Woodrow Wilson tivesse mantido os Estados Unidos fora da Primeira Guerra Mundial?  Em virtude da sua natureza contrafatual, a resposta a uma questão como esta jamais pode ser empiricamente confirmada ou rejeitada.  Todavia, isso não torna a questão sem sentido ou a resposta arbitrária.  Pelo contrário: baseando-se na compreensão dos verdadeiros eventos e personagens históricos envolvidos, a questão acerca do mais provável curso alternativo da história pode ser respondida em detalhes e com considerável segurança. 
Se os Estados Unidos tivessem seguido uma estrita política externa de não-intervencionismo, o conflito dentro da Europa provavelmente teria acabado ao final de 1916 ou no início de 1917, como resultado de várias iniciativas de paz, mais notadamente empreendidas pelo imperador austríaco Carlos I.  Ademais, a guerra teria sido concluída por meio de acordos de paz mutuamente aceitáveis e que mantivessem a dignidade das partes, e não com o decreto que de fato foi imposto.  Consequentemente, a Áustria-Hungria, a Alemanha e a Rússia teriam permanecido com as tradicionais monarquias em vez de serem transformadas em repúblicas democráticas de curta duração.
Com um czar russo, um kaiser alemão e um kaiser austríaco, teria sido quase impossível para os bolcheviques conquistar o poder na Rússia.  Da mesma forma, também teria sido quase impossível para os fascistas e os nacional-socialistas (nazistas) — em reação à crescente ameaça comunista na Europa Ocidental — fazer a mesma coisa na Itália e na Alemanha. 
Os milhões de vítimas do comunismo, do nacional-socialismo (nazismo) e da Segunda Guerra Mundial teriam sido salvos.  A extensão da interferência e do controle governamentais sobre a economia privada no mundo ocidental jamais teria alcançado o tamanho que hoje se vê.  E, em vez de a região que abrange a Europa Central e a Europa Oriental (e, em consequência, metade do globo) cair em mãos comunistas e por mais de quarenta anos ser pilhada, devastada e coercivamente excluída dos mercados ocidentais, a Europa inteira (e todo o globo) teria permanecido economicamente integrada (tal como ocorrera no século XIX) por meio de um sistema de divisão do trabalho e de cooperação social de âmbito global.  O padrão de vida no mundo como um todo seria hoje muito maior do que o atual.

Diante do pano de fundo desse exercício imaginativo e do verdadeiro curso dos eventos, o sistema imposto ao mundo pelos EUA e a pax Americana parecem ser — ao contrário da história "oficial", a qual é sempre escrita pelos vencedores; mais especificamente, a partir da perspectiva dos proponentes da democracia — um desastre colossal.  Por conseguinte, a Áustria dos Habsburgos e a era pré-democrática se tornam ainda mais atraentes. Ninguém menos do que George F. Kennan, embaixador americano na URSS e a própria encarnação do establishment, escrevendo em 1951, chegou muito perto de admitir isso:
Contudo, hoje, se fosse oferecida a oportunidade de ter de volta a Alemanha de 1913 — uma Alemanha governada por pessoas conservadoras, mas relativamente moderadas, sem nazistas e sem comunistas, uma Alemanha vigorosa, unida e não-ocupada, cheia de energia e confiança, capaz de fazer parte de uma frente que contrabalançaria o poder russo na Europa... Bem, haveria objeções a isso de muitos lugares, e isso não faria todo mundo feliz; porém, de várias maneiras, e em comparação com os nossos problemas de hoje, isso não seria tão ruim.  Agora, pense no que isso significa.  Quando verificamos o saldo total das duas guerras, nos termos dos seus objetivos declarados, há uma enorme a dificuldade em perceber e discernir algum ganho. (George F. Kennan, American Diplomacy, 1900—1950 [Chicago: University of Chicago Press, 1951], pp. 55–56)

terça-feira, 1 de julho de 2014

Músicas de que gosto: Giz - Legião Urbana

Sempre que tiver uma idéia de música, postarei por aqui para os leitores apreciarem. De primeira, mando a minha favorita dos brasileiros de Legião Urbana. :]

https://www.youtube.com/watch?v=thy8vO5VY8Q

Giz - Legião Urbana

E mesmo sem te ver

Acho até que estou indo bem
Só apareço, por assim dizer
Quando convém aparecer
Ou quando quero
Quando quero
Desenho toda a calçada
Acaba o giz, tem tijolo de construção
Eu rabisco o sol que a chuva apagou
Quero que saibas que me lembro
Queria até que pudesses me ver
És, parte ainda do que me faz forte
Pra ser honesto
Só um pouquinho infeliz
Mas tudo bem
Tudo bem, tudo bem...
Lá vem, lá vem, lá vem
De novo
Acho que estou gostando de alguém
E é de ti que não esquecerei
Tudo bem, tudo bem...
Eu rabisco o sol que a chuva apagou
Tudo bem, tudo bem...
Acho que estou gostando de alguém
Tudo bem, tudo bem...

segunda-feira, 30 de junho de 2014

Sobre o autor.

Bom, criei este blog para expor alguns pensamentos e idéias de um típico , mas não exporei meu nome verdadeiro. Falarei sobre economia, trabalho, viagens, entretenimento, histórias, e sobre fatos curiosos da vida, e o que mais eu lembrar além. Tenho 19 anos e o leitor pode me chamar de Henry. Moro em uma das capitais do sul do Brasil, curso engenharia, e sou cheio de sonhos. Bom, por enquanto é só. Mais além posto mais. Boa segunda feira ao leitor :]